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Agronegócios

O Impacto do Crédito Rural na Sustentabilidade do Agronegócio

Por Isabella Holouka

Publicado em 03/11/2025

10 minutos de leitura

Entenda como o crédito rural pode impulsionar práticas sustentáveis no agronegócio, com insights de Eva Helena de Magalhães Pinto, especialista em Agronegócios pelo MBA USP/Esalq

O crédito rural tem um papel fundamental no agronegócio brasileiro, principalmente quando se trata de garantir práticas sustentáveis e alinhadas com a crescente demanda por soluções mais ecológicas. Eva Helena de Magalhães Pinto, formada em Economia pela Unesp, especialista em Agronegócios pelo MBA USP/Esalq e com uma ampla experiência no Banco do Brasil, compartilhou insights sobre como o financiamento rural pode ser uma ferramenta poderosa para fortalecer a sustentabilidade no setor.

Com base em sua pesquisa de TCC, Eva analisa como a oferta de crédito está intimamente ligada às decisões dos produtores e como pode influenciar positivamente a adoção de práticas sustentáveis. Ao longo desta entrevista, Eva aborda a relação entre financiamento e sustentabilidade, os desafios enfrentados pelos produtores, as tendências no financiamento sustentável e a relevância da COP30 para moldar o futuro do crédito rural no Brasil.

1. Como você explicaria, para um público leigo, a relação entre financiamento rural e sustentabilidade no agronegócio?

Eva Helena: “O crédito rural e a sustentabilidade ambiental estão intimamente ligados. Essa relação ganhou força com a Rio-92, quando foi criado o Protocolo Verde – assinado pelos principais bancos brasileiros, adotando critérios ambientais na concessão de crédito rural – e o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) incorporou o desenvolvimento sustentável em suas políticas de crédito.

Baseado nesse acordo, o SNCR criou linhas de créditos rurais específicas para financiar atividades ambientalmente sustentáveis. Essas linhas, hoje, financiam itens como sistemas agroflorestais, plano de manejo florestal, recomposição e manutenção de área de preservação permanente e reserva legal, recuperação de áreas degradas, implantação de sistemas orgânicos de produção, de produtos da sociobiodiversidade, energia renovável e sustentabilidade ambiental, entre outros. Quanto maior o crédito voltado a essas linhas, maior será a área preservada ou recuperada.

Dessa forma, as políticas de crédito rural precisam estar sempre evoluindo, com foco em atender as demandas de produtores rurais que buscam o aperfeiçoamento de suas atividades focados no meio ambiente.”

2. Quais foram os principais achados sobre o impacto do crédito rural na sustentabilidade ambiental do agronegócio, de acordo com sua pesquisa de TCC do MBA USP/Esalq?

Eva Helena: “A oferta de crédito rural tem um impacto direto nas decisões dos produtores. Para pequenos produtores, o aumento no crédito permite o aumento da produtividade sem a necessidade de expandir para novas terras, o que ajuda a preservar as áreas florestais e evitar o desmatamento. Já para os grandes produtores, o aumento do crédito está frequentemente associado à expansão das áreas cultivadas e de pastagem, o que pode pressionar as florestas.

Minha pesquisa conclui que o Brasil tem condições de potencializar sua produção agropecuária, mantendo sua vegetação nativa e incentivando, através de Políticas Públicas e o direcionamento do crédito rural, o manejo sustentável e a recuperação de áreas degradas de forma eficiente.”

3. Você encontrou alguma barreira que dificulta o acesso ao crédito rural para os produtores que buscam adotar práticas sustentáveis?

Eva Helena: “A principal barreira é o desconhecimento sobre as linhas de crédito disponíveis, como usá-las e qual delas é mais adequada ao perfil do produtor. Muitos produtores rurais, assessores e até mesmo instituições financeiras não sabem quais linhas de crédito podem financiar práticas sustentáveis ou qual é a melhor opção para cada situação. Superar esse obstáculo depende da capacitação dos profissionais envolvidos e do entendimento claro das necessidades do produtor.”

4. Como as instituições financeiras podem melhorar a oferta de crédito rural com foco em sustentabilidade e práticas ecológicas?

Eva Helena: As instituições podem reforçar seus processos internos de verificações prévias, com vistas a assegurar que o demandante do crédito rural está em conformidade com as diretrizes das linhas ofertadas, seguindo as orientações do Manual de Crédito Rural (MCR) e observando os eventuais impedimentos sociais, ambientais e climáticos. Ademais, as instituições podem reforçar, dentro das suas competências, as atividades de monitoramento e fiscalização para identificar que o beneficiário do crédito rural segue as práticas ambientais sustentáveis exigidas nas linhas de crédito.”

5. Que tipo de inovação ou estratégia o setor financeiro pode adotar para alinhar os investimentos em agronegócio com as metas de sustentabilidade global, como as da COP30?

Eva Helena:O setor financeiro poderia adotar ferramentas que utilizassem dados existentes no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), no Cadastro Ambiental Rural (CAR), e no Mapbiomas, para levantar a situação do produtor e de sua(s) propriedade(s) quanto à atividade exercida, cultura, existência de reserva legal, área de preservação permanente, vegetação nativa, e para fornecer informações e orientações quanto ao manejo sustentável, boas práticas, novas tecnologias utilizadas na região, soluções de baixo carbono, preservação de florestas e vegetações nativas, até mesmo com dados referentes a mudanças climáticas identificadas na região. Tudo isso, disponível e direcionado ao produtor, auxiliando-o na tomada de decisão e informando linhas de créditos específicas e suporte profissional, quando necessário ao produtor.

6. Quais são as tendências mais promissoras no financiamento rural sustentável, e como os profissionais do setor podem se preparar para essas mudanças?

Eva Helena:O mercado consumidor brasileiro valoriza os produtos oriundos de propriedades rurais que atuam no manejo sustentável e no cuidado com o meio ambiente. As tendências mais promissoras no financiamento rural sustentável, atualmente, incluem a implantação de sistemas orgânicos de produção, a utilização de bioinsumos (biofertilizantes, biopesticidas, extratos vegetais e outros microrganismos benéficos as plantas), tecnologias verdes (tais como integração lavoura-pecuária-floresta e recuperação de pastagens), exploração extrativista ecologicamente sustentável, utilização de energias renováveis e tecnologias ambientais, como estação de tratamentos de água, de dejetos e efluentes, compostagem e reciclagem.

O profissional do setor precisa acompanhar as novas tecnologias, transição climática, novas práticas regenerativas, manejo sustentável e compliance ambiental, alinhadas às habilidades que mencionei anteriormente, para ter embasamento e informações que o auxiliem na tomada de decisão, dentro e fora da propriedade.”

7. Como você acredita que a COP30 pode influenciar o desenvolvimento e a implementação de políticas de crédito rural mais alinhadas à sustentabilidade?

Eva Helena:A COP30 trará temas importantíssimos para o meio ambiente e com forte influência no agronegócio. Dentre os principais temas estão: redução de emissão de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, financiamento climático para países em desenvolvimento, energias renováveis e soluções de baixo carbono, preservação de florestas e biodiversidade e justiça climática, com foco na proteção de povos vulneráveis.

Esses temas já trazem um leque de opções e oportunidades para que as políticas de crédito rural ampliem suas ações, estimulando cada vez mais as práticas sustentáveis, através do direcionamento de crédito rural. Esse evento abrirá portas para inovações, novas práticas e manejo, resultados práticos e enriquecerá nossa atuação no campo.”

8. Como você vê o papel do crédito rural no alcance das metas de redução de emissões e na implementação de práticas de sustentabilidade pós-COP30?

Eva Helena:A COP30 será um marco para nós, do agronegócio! Esse evento histórico permitirá ao Brasil reforçar seu papel como protagonista nas negociações sobre clima e sustentabilidade, mostrando todo seu potencial em energias limpas e renováveis, biocombustíveis e como o agronegócio brasileiro investe em práticas sustentáveis, novas tecnologias, proteção e recuperação de vegetações nativas, cuidados especiais com nossos biomas.

Assim como em Paris, a COP30 deverá trazer uma Agenda de Ações Climáticas, que servirá como norteador de implementações e expansão de soluções sustentáveis e trará ações claras e pragmáticas para acelerar seu impacto.”

9. Quais habilidades você acredita que os profissionais do agronegócio precisam desenvolver para navegar no complexo cenário de crédito rural e sustentabilidade?

Eva Helena: Hoje, o profissional do agronegócio precisa desenvolver algumas habilidades (Soft Skills e Hard Skills), como:

  • Adaptabilidade, para lidar com as mudanças climáticas e o dinamismo das novas tecnologias e do mercado;
  • Visão de negócio, dentro e fora da porteira, pensando não apenas na produção, mas entendendo os impactos ambientais e econômicos de suas decisões;
  • Proatividade para solucionar problemas e buscar constantemente melhorias;
  • Inteligência de dados e IA para conseguir interpretar dados que o auxiliem na tomada de decisão;
  • Sustentabilidade para acompanhar a transição climática, as práticas regenerativas, manejo sustentável e compliance ambiental.

Essas habilidades, alinhadas ao conhecimento sobre as políticas de crédito rural, Plano Safra e as linhas disponíveis podem auxiliar na tomada de decisão do produtor.”

Crédito Rural: ferramenta estratégica para preservação ambiental e produtividade

A entrevista com Eva Helena destaca o papel essencial do crédito rural não apenas para aumentar a produção, mas também para promover práticas sustentáveis no agronegócio. Ela também aponta a importância de uma maior educação sobre as opções de crédito disponíveis e o alinhamento das políticas públicas com as necessidades do produtor e com as metas ambientais globais. A integração de tecnologias, como IA e o uso estratégico de dados, será decisiva para otimizar a concessão de crédito rural e atingir os objetivos climáticos.

À medida que o Brasil se posiciona como líder em sustentabilidade agrícola, o crédito rural se torna uma ferramenta estratégica para garantir a preservação ambiental e a produtividade do setor.

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