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Agronegócios

Belém 2025: o desafio da arborização urbana

Por Isabella Holouka

Publicado em 26/11/2025

6 minutos de leitura

Os olhos do mundo estiveram fixos em Belém, a metrópole da Amazônia que sediou a COP 30 (30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas) na semana passada.

Famosa por seu apelido de “cidade das mangueiras”, Belém esteve no palco global, mas o evento não apagou a narrativa que se desenrola entre seus cidadãos: por baixo da copa de sua identidade verde, persiste um profundo sentimento de insuficiência entre seus cidadãos.

Como a população local realmente percebe a relação entre este evento climático global e a arborização urbana de seu cotidiano? Para desvendar essa tensão entre a imagem e a realidade antes da Conferência, a pesquisadora Liliane Corrêa Machado conduziu um estudo oportuno em seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

Este artigo explora o diagnóstico da comunidade no epicentro do debate climático mundial, mergulhando nas descobertas da pesquisa de Liliane Machado para o MBA em Agronegócios USP/Esalq, intitulada “Percepção da COP 30: objetivos e impactos na arborização da região metropolitana de Belém/PA”, concluída em 2024.

O estudo utilizou uma enquete online que ouviu 72 moradores da região metropolitana em setembro de 2024, oferecendo um panorama valioso sobre as expectativas e frustrações da população.

Principais achados: o contraste entre imagem e realidade

O estudo revela um cenário de contrastes, onde a alta expectativa sobre a COP30 coexiste com a desinformação. A valorização das árvores se choca com uma percepção de carência e ineficácia dos esforços públicos.

  • Conhecimento sobre a COP 30: a familiaridade com o evento é quase universal (98,6% dos entrevistados já ouviram falar), mas um vácuo de informação persiste: quase metade (47,2%) se sente pouco informada sobre os verdadeiros objetivos da conferência.
  • Oportunidade para a cidade: a percepção de que a COP 30 é um momento estratégico é massiva. Cerca de 84,7% dos moradores acreditam que o evento é uma grande oportunidade para promover a sustentabilidade ambiental em Belém.
  • Valorização das árvores: os residentes reconhecem a arborização como uma ferramenta crucial contra as mudanças climáticas, destacando a melhoria do microclima e do conforto térmico. Os dados mostram que 91,7% (somando concordância plena e parcial) apoiam o plantio de novas árvores como medida eficaz.
  • Sentimento de insuficiência: emergiu uma clara sensação de déficit. Um total de 65,3% dos entrevistados afirmam que não há áreas verdes e arborizadas suficientes em suas comunidades. Esse sentimento reflete a pressão da urbanização desordenada e a falta de políticas públicas consistentes, com 41,7% dos entrevistados acreditando que os esforços atuais de plantio de árvores não são visíveis ou eficazes.

A visão da especialista: análises e desafios estratégicos

Para além dos números, a análise de Liliane Machado ajuda a compreender o “porquê” por trás desses dados, revelando os desafios cruciais para a sustentabilidade de Belém.

A desconexão: conforto vs. estratégia climática

Um dos achados mais importantes do estudo é a desconexão entre os benefícios imediatos da arborização e seu papel estratégico na política ambiental. A população valoriza as árvores pelo bem-estar, mas nem sempre as enxerga como parte central da solução para a crise climática.

“Grande parte dos respondentes associa a arborização a bem-estar e conforto térmico, mas poucos a relacionam diretamente a políticas ambientais e ao enfrentamento das mudanças climáticas. Isso revela a necessidade de maior conscientização e integração entre o planejamento urbano, a agenda climática e a valorização da cobertura vegetal”, destacou a ex-aluna em entrevista.

Conectando o urbano e o rural: arborização e agronegócio

Para uma cidade imersa na Amazônia, um futuro sustentável não pode se limitar ao seu núcleo urbano. A análise de Machado se estende ao agronegócio, destacando que práticas como os Sistemas Agroflorestais (SAFs) — que integram árvores a cultivos e/ou pecuária — são fundamentais para os objetivos da COP 30. Essas técnicas ajudam a sequestrar carbono, conservar o solo e a água, e aumentar a biodiversidade.

Desafios de Belém: entre a expansão e a preservação

A especialista aponta que Belém enfrenta uma encruzilhada. De um lado, a pressão da urbanização desordenada e da expansão agrícola ameaça as áreas verdes existentes. De outro, a falta de um planejamento urbano integrado e de políticas públicas consistentes para a arborização impede a criação de um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável para a metrópole amazônica.

O caminho a seguir: estratégias e oportunidades de mercado

Com base em sua análise, Liliane Machado propõe um conjunto de estratégias para alinhar o desenvolvimento da região com a preservação ambiental, transformando os desafios em oportunidades.

  • Fortalecer Práticas Sustentáveis: É fundamental investir e ampliar o uso de técnicas como a agroecologia, os Sistemas Agroflorestais (SAFs), a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) — que combina cultivo, pecuária e floresta na mesma área —, a recuperação de áreas degradadas com espécies nativas e o uso de bioinsumos.
  • Incentivos e Inovação: A implementação de políticas como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) — que recompensa financeiramente produtores rurais que conservam o meio ambiente — é essencial para mostrar que a preservação pode ser rentável.
  • Diferenciação no Mercado: As empresas do agronegócio podem se destacar ao adotar critérios ESG (Ambiental, Social e Governança). A sustentabilidade agrega valor, abre portas para certificações e aumenta a credibilidade junto a consumidores e investidores.

A COP 30 como ponto de virada: o futuro da “cidade das mangueiras”

Para Liliane Machado, a COP 30 no Brasil foi uma “oportunidade histórica” para a Amazônia. O evento pode servir como um catalisador para impulsionar políticas públicas mais rigorosas e criar incentivos econômicos que promovam a arborização e o uso sustentável da terra. A pesquisa revela uma população que vê a promessa da COP 30, mas sente a realidade diária de espaços verdes insuficientes.

A questão que agora paira sobre a metrópole da Amazônia é se este evento histórico será o catalisador necessário para fechar essa lacuna, transformando a imagem querida da “cidade das mangueiras” em uma realidade vivida e sustentável para todos os seus cidadãos.

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