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Agronegócios

Agro, AgTech e Carbono: a nova rota do desenvolvimento

Por Isabella Holouka

Publicado em 18/11/2025

5 minutos de leitura

Artigo de Roberto Carline, Engenheiro Mecânico com MBA em Finanças, Mestrado em Economia Internacional e Master em Corporate Venture e Open Innovation, ele é coautor do livro Ligando os Pontos do ESG e especialista convidado pelo MBA USP/Esalq.

O Brasil está diante de uma oportunidade histórica: transformar sua vocação agrícola e ambiental em motores de uma nova economia verde, capaz de conciliar produtividade, sustentabilidade e protagonismo global.

A agropecuária brasileira, responsável por cerca de 27% do PIB, vive um momento de inflexão. A expansão do agronegócio, antes pautada pela lógica da escala, agora é pressionada a produzir mais, com menos impacto.

Segundo o World Bank Food Security Update (2025), a agricultura consome 70% da água doce disponível e figura entre os principais vetores de desmatamento e emissões.

Nesse cenário, a adoção de práticas sustentáveis deixou de ser uma escolha ética para se tornar uma exigência econômica e climática.

O Mercado de Carbono: um divisor de águas

A regulamentação do mercado de carbono no Brasil, com o Decreto n° 12.677/2025 e a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), representa um divisor de águas. O país abandona a voluntariedade e adota um modelo regulado, alinhando-se às práticas europeias.

Esta é uma estratégia de inserção em cadeias de valor descarbonizadas, com potencial para:

  • Atrair capital e estimular a inovação.
  • Reposicionar o Brasil como fornecedor relevante de créditos de carbono em expansão.

O agronegócio como protagonista

O agronegócio, novamente, desponta como protagonista. Práticas como agricultura regenerativa, reflorestamento e manejo sustentável podem ser transformadas em ativos negociáveis.

Segundo a Embrapa, a adoção em larga escala dessas técnicas pode gerar dezenas de milhões de toneladas de créditos de carbono por ano. Países como Austrália e Estados Unidos já operam programas robustos de sequestro de carbono no solo, e o Brasil tem potencial para superá-los.

Setores estruturais beneficiados

  • Setor Energético: A vantagem é estrutural: 83% da eletricidade brasileira provém de fontes renováveis. Isso posiciona o país como exportador natural de créditos (eólica, solar, biomassa). A precificação da tonelada de carbono no mercado europeu gira em torno de €90, indicando grande espaço para valorização no Brasil.
  • Indústria: Segmentos como cimento, aço e papel e celulose podem acelerar a adoção de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), impulsionados por incentivos regulatórios. O Brasil, ao estruturar um mercado confiável, pode atrair capital semelhante ao que apoia o CCS na Noruega.

AgTechs: estratégia de desenvolvimento e inovação

O conceito de Climate-Smart Agriculture (Agricultura Climaticamente Inteligente), promovido pelo Banco Mundial, emerge como resposta estratégica, baseada em três pilares: aumento da produtividade, melhoria da resiliência financeira e ambiental e redução de emissões.

Extrapolando o mercado de carbono, as AgTechs (startups voltadas à inovação no setor agrícola) desempenham papel decisivo, acelerando a transição para uma agricultura mais eficiente, rastreável e sustentável.

O papel da tecnologia e do ecossistema

  • Tecnologia Transversal: Startups de monitoramento via satélite, blockchain para rastreabilidade e inteligência artificial (IA) para modelagem de emissões encontram terreno fértil. Israel e Canadá são referências, mas o Brasil tem potencial para tornar-se um polo de inovação climática.
  • Democratização: As AgTechs utilizam soluções de biotecnologia, IA, certificações, sensores e plataformas de gestão para democratizar o acesso à tecnologia, permitindo que pequenos e médios produtores adotem práticas antes restritas a grandes grupos.
  • Ecossistema Brasileiro: O Brasil abriga um dos ecossistemas AgTech mais vibrantes do mundo, com polos em Piracicaba – onde está localizado o Pecege –, Ribeirão Preto e Londrina, e pode se tornar referência global em inovação agrícola se houver apoio regulatório e financiamento adequado.

Ganhos econômicos e exigência de convergência

O setor financeiro, por sua vez, encontra uma nova fronteira de produtos. Fundos verdes, debêntures de carbono e seguros climáticos ganham relevância, e a B3 já sinalizou interesse em plataformas de negociação de créditos, inspirando-se em modelos como o do Climate Impact X, de Singapura.

Ao incorporar serviços consultorias ambientais, suporte jurídico e certificação, o mercado de carbono brasileiro reforça seu potencial como vetor de transformação econômica.

  • Impacto no PIB: Estimativas indicam que esse ecossistema pode impulsionar o PIB em até 5,8% entre 2030 e 2040, gerando milhares de empregos qualificados em engenharia ambiental e ciência de dados.
  • Mercados Maduros: Em economias maduras como Reino Unido e Alemanha, serviços complementares já representam 30% do valor agregado do mercado – um indicador do que o Brasil deve buscar.

A regulamentação do mercado de carbono e as AgTechs não são apenas resposta à emergência climática; são uma estratégia de desenvolvimento.

Para colher os frutos dessa transição, será necessária a convergência entre governo, setor privado e sociedade civil. Um mercado eficaz exige regras claras, fiscalização robusta e abertura à inovação.

Em tempos de transição global, o Brasil tem a chance de liderar não apenas pela natureza que preserva, mas pela economia que pode transformar.

Artigo de Roberto Carline, Engenheiro Mecânico com MBA em Finanças, Mestrado em Economia Internacional e Master em Corporate Venture e Open Innovation, ele é coautor do livro Ligando os Pontos do ESG e especialista convidado pelo MBA USP/Esalq

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