Artigo de Roberto Carline, Engenheiro Mecânico com MBA em Finanças, Mestrado em Economia Internacional e Master em Corporate Venture e Open Innovation. Ele é coautor do livro Ligando os Pontos do ESG e especialista convidado pelo MBA USP/Esalq.
Agronegócios
Capitalismo Verde com DNA Brasileiro: SAFI, Inovação e Valor Compartilhado
Por Isabella Holouka
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Publicado em 18/11/2025
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5 minutos de leitura
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O Brasil vive um momento decisivo em sua trajetória de desenvolvimento. Diante dos desafios socioambientais e da urgência por modelos econômicos mais inclusivos e sustentáveis, emerge a possibilidade de uma nova arquitetura de transformação que combina três pilares estratégicos: Sistemas Agroflorestais Inteligentes (SAFI), inovação tecnológica e os princípios da Economia da Mutualidade (EoM).
Essa tríade representa não apenas uma alternativa ao extrativismo predatório, mas uma proposta concreta de capitalismo regenerativo, capaz de gerar valor compartilhado e restaurar ecossistemas enquanto promove inclusão social.
A força dos Sistemas Agroflorestais Inteligentes (SAFI)
Os SAFIs se destacam como uma solução agroecológica que integra culturas agrícolas, espécies florestais e, em alguns casos, pecuária, promovendo sinergias ecológicas.
Essa integração tem múltiplos benefícios ambientais e sociais:
- Restauram solos e aumentam a biodiversidade.
- Sequestram carbono: Embrapa indicam que áreas manejadas com SAFI podem capturar até 12 toneladas de CO₂ por hectare ao ano.
- Reduzem o uso de insumos químicos em até 70%.
Projetos como o Refloresta São Paulo e o sistema agroflorestal da Fazenda da Toca demonstram que é perfeitamente possível conciliar produtividade com regeneração ambiental. Contudo, a escalabilidade desses modelos depende de inovação e financiamento inteligente.
O vetor da inovação tecnológica e o financiamento
A inovação tecnológica surge como o vetor que permite escalar os SAFIs com eficiência e transparência. Soluções de agricultura de precisão, como sensores IoT, drones para mapeamento e plataformas de blockchain para rastreabilidade, reduzem custos, aumentam a produtividade e garantem a governança.
A inovação no Brasil é amparada por um arcabouço de apoio:
- O Mapa de Fomento à Inovação e ESG (atualizado em 2024) revela mais de 30 mecanismos públicos e privados de apoio.
- Entre os mecanismos estão o FINEP Inova Sustentabilidade, o Fundo Clima e os incentivos da Lei do Bem (que oferece deduções fiscais para empresas que investem em P&D).
No entanto, a inovação precisa ser orientada por valores e métricas que transcendam o lucro, e é nesse ponto que a Economia da Mutualidade se torna essencial.
Economia da Mutualidade (EoM): Além do EBITDA
A Economia da Mutualidade (EoM), desenvolvida inicialmente pela Mars Inc. em parceria com a Universidade de Oxford, propõe que empresas devem gerar valor não apenas para acionistas, mas também para stakeholders como:
- Comunidades
- Trabalhadores
- Meio ambiente
- Governos
Isso exige métricas além do EBITDA, como: bem-estar, inclusão, regeneração ambiental e capital social.
No Brasil, instituições como o Instituto Humanize e a Fundação Dom Cabral têm promovido a EoM, com o projeto emblemático Raízes do Cerrado, que conecta comunidades extrativistas a mercados premium com rastreabilidade e repartição justa de valor, demonstrando que é possível alinhar propósito e rentabilidade.
Convergência: SAFI, Inovação e EoM na Prática
A convergência entre SAFI, inovação e EoM aponta que resultados robustos podem ser atingidos. Em um exercício conceitual:
- Pequenos produtores implementariam SAFIs com apoio de sensores de umidade e drones para monitoramento.
- Uma startup local forneceria essa tecnologia via modelo freemium, financiada por créditos de carbono certificados.
- Uma cooperativa seria formada, adotando princípios de EoM, garantindo que 60% da margem líquida fosse reinvestida na comunidade em educação, saúde e infraestrutura.
Em apenas três anos, projeções apontam resultados impressionantes:
- Aumento de 40% na renda média dos produtores.
- Redução de 65% no uso de agrotóxicos.
- Sequestro de 9 toneladas de CO₂ por hectare ao ano.
- Um Retorno Social sobre Investimento (SROI) estimado em 3,5:1.
O arcabouço regulatório e a liderança brasileira
O arcabouço regulatório brasileiro oferece oportunidades: o Código Florestal reconhece os SAFIs como uso sustentável do solo, a Lei de Inovação permite parcerias público-privadas para P&D, e o Marco Legal das Startups facilita o acesso a capital e desburocratização.
Contudo, ainda existem lacunas importantes:
- Ausência de regulamentação clara para créditos de carbono em SAFI.
- Dificuldades de acesso a financiamento para pequenos produtores.
- Falta de métricas padronizadas para valor compartilhado.
Superar essas barreiras exige coordenação sistêmica e vontade política.
Com 66% do território coberto por vegetação nativa e mais de quatro milhões de agricultores familiares, o Brasil possui escala, diversidade e urgência para se tornar um laboratório global de capitalismo regenerativo. Para isso, é necessário:
- Criar fundos híbridos com métricas de impacto.
- Estimular sandboxes regulatórios para SAFI e EoM.
- Integrar universidades, startups e comunidades em hubs de inovação territorial.
A união entre SAFI, inovação e Economia da Mutualidade não é apenas desejável, é estratégica. Trata-se de construir um novo pacto entre economia, sociedade e natureza.
Como afirmou o economista francês Eloi Laurent, “a economia do século XXI será bioeconômica ou não será”. O Brasil tem os ativos, os desafios e a capacidade de se tornar referência global nesse novo paradigma. O que falta é transformar essa visão em política pública, investimento coordenado e ação coletiva.
Artigo de Roberto Carline, Engenheiro Mecânico com MBA em Finanças, Mestrado em Economia Internacional e Master em Corporate Venture e Open Innovation. Ele é coautor do livro Ligando os Pontos do ESG e especialista convidado pelo MBA USP/Esalq.
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