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Gestão de Projetos

COP30: sustentabilidade sem justiça social é apenas discurso

Por Isabella Holouka

Publicado em 18/11/2025

5 minutos de leitura

Olá! Sou Mayara Rodrigues Caldeira, Especialista em Gestão de Projetos pelo MBA USP/Esalq. É uma honra contribuir com as discussões da Imersão COP30 – Uma experiência MBX.

Sou uma mulher negra, periférica, tenho 26 anos e moro na Zona Sul de São Paulo, no Campo Limpo. Minha trajetória profissional é marcada pela união entre humanidades e gestão: sou Bacharel em Filosofia pela PUC-SP e Especialista em Gestão de Projetos pelo MBA USP/Esalq. Atualmente, trabalho como Analista de Adesão no Pacto Global da ONU Rede Brasil.

COP30, Equidade e Gestão de Projetos

Para contribuir com a Imersão COP30, escolhi refletir sobre o significado deste momento para o Brasil, traçando uma breve relação com minhas pesquisas em Gestão de Projetos e Filosofia.

O cerne da minha contribuição é ressaltar a importância de correlacionar diversidade e equidade com a gestão da Conferência COP30, e o seu significado profundo para:

  • A população negra e periférica;
  • Os povos quilombolas;
  • As comunidades indígenas e extrativistas.

Estes são os grupos mais diretamente impactados por uma conferência sediada na Região Amazônica.

Excelência em Gestão e COP30

Na conclusão do meu MBA, cujo tema foi “Excelência em gestão de equipe e projeto: como alcançar uma boa performance”, utilizei uma frase do PMI que se encaixa perfeitamente no contexto da COP30:

“Independentemente de como o gerenciamento acontece, modelos de liderança de apoio e engajamentos significativos e contínuos entre as equipes de projeto e outras partes interessadas sustentam os resultados bem-sucedidos.” (PMI, 2017)

Adaptando: independentemente de como as negociações das partes interessadas na COP vêm acontecendo, modelos de diversidade de lideranças e o apoio contínuo, participativo e representativo da população e comunidades, para além dos decisores já definidos, serão a sustentação dos resultados.

A Urgência do Agora e a Vulnerabilidade Climática

Falo não apenas do futuro, mas destaco o agora como o tempo mais emergencial, pois é o presente de quem mais sofre com a crise climática e a falta de qualidade de vida relacionada à falta de preservação ambiental.

Essa vulnerabilidade é fruto de uma série de injustiças, como:

  • A crise climática e a falta de práticas sustentáveis e circulares.
  • A exploração e o apagamento de saberes ancestrais (que tinham e têm cor, cultura e terra).
  • Ferimentos aos direitos humanos.
  • Corrupção, inacessibilidade e a falta de diversidade e equidade.

Temos visto especialistas incríveis abordarem o racismo ambiental, um tema que ganha notoriedade máxima com as crises climáticas. Por isso, mais do que nunca, precisamos olhar para esta crise ressaltando a perspectiva de quem está mais vulnerável.

Engajamento dos Povos Tradicionais: Voz e Sustentação

Observamos os movimentos sociais se preparando para mobilização em torno da COP, não apenas em função das negociações oficiais, mas como forma de dar voz às comunidades locais.

O fato de cerca de 3.000 indígenas de vários países terem participado, sendo cerca de 1.000 na Blue Zone (zona oficial das negociações), demonstra a força desse engajamento. Há também uma intensa mobilização dos povos quilombolas, extrativistas e comunidades tradicionais da Amazônia para que seus direitos territoriais e seu papel climático sejam reconhecidos pela COP.

Ainda que o poder de influenciar efetivamente as decisões permaneça limitado neste primeiro momento, a contribuição e engajamento dos povos indígenas e quilombolas, como parafraseei do PMI, é o que sustentará os resultados da conferência.

Um exemplo recente dessa urgência: no estado do Pará, em setembro, o jornalismo Brasil de Fato relatou que alunos de comunidades quilombolas ficaram mais de 7 meses sem aulas, mesmo com a COP30 sendo sediada ali. Isso mostra que, enquanto se discute o clima global, as questões de justiça social, infraestrutura e direitos humanos locais permanecem urgentes e precisam ser vistas sob a perspectiva de quem está vulnerável.

Sustentabilidade Sem Justiça é Apenas Discurso

Eu acredito que discutir a COP30 é, antes de tudo, falar sobre a necessidade de repensarmos o nosso papel coletivo diante da emergência climática. Porque sustentabilidade sem justiça social não é sustentabilidade — é apenas discurso.

Que o Brasil, como sede desse marco histórico, olhe verdadeiramente para dentro e de dentro:

  • Para sua Amazônia;
  • Para suas periferias;
  • Para seus povos originários e comunidades tradicionais.

É na escuta dessas vozes que está a sabedoria de um futuro possível. A COP30 precisa ser mais do que um evento; deve ser um ponto de virada — um chamado para uma liderança plural, interseccional e realmente comprometida com resultados reais, humanos e duradouros.

Agradeço imensamente o MBA USP/Esalq e do Pecege por esta oportunidade de contribuir com a Imersão COP30 – Uma Experiência MBX. É uma honra retornar como ex-aluna e especialista, compartilhando reflexões que unem gestão, filosofia e propósito.

Que essa conversa inspire mais pessoas a liderar com consciência, com diversidade e com compromisso com o agora — porque o agora é o tempo mais urgente de todos.

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